Fotógrafos fazendo História
Cada um tem o 4 de julho que merece. Nós queremos cultura, história e informação.
O pré-lançamento, nessa noite, na Fundação Perseu Abramo do livro "Máquinas Paradas - Fotógrafos em Ação" é um daqueles momentos mágicos que a fotografia é abundante em proporcionar.
Dez fotógrafos que, antes de tudo, agiram como cidadãos ao praticar com profissionalismo e criatividade o mais importante registro histórico da últimas décadas, em São Paulo se encontram em uma publicação como há muito tempo não se via.
Os acervos dos fotojornalistas Edu Simões, Jesus Carlos, João Bittar, Ricardo Giraldez, Nair Benedicto, Ricardo Alves, Helio Campos Mello, Rosa Gauditano, Juca Martins e eu mesmo, sobre as greves metalúrgicas que tomaram a cidade e arredores no fim dos anos 1970 e começos dos 1980 estão reunidos, pela primeira vez, para contar essa história.
As Greves Metalúrgicas, na capital e grande São Paulo, são um ponto de inflexão definitivo na vida política e social do pais daqueles anos e o Fotojornalismo não ia ficar de fora dessa história. Esse é, muito provavelmente, o movimento popular mais documentado da história brasileira e por conta de um fotojornalismo consciente e ousado podemos ter noção da sua dimensão e objetividade.
Esses caras e essas minas fizeram o mundo conhecer o que se passava no pais na hora que deu sede na onça.
João Bittar:
1978 - Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, aponta o umbigo e desafia o fotógrafo a registrar, mas a foto já tinha sido feita. (Foto para revista Isto É, que só foi publicada 24 anos depois na revista Época)
Edu Simões:
1980 - Vito Giannotti, operário metalúrgico, liderança da Oposição Sindical Metalúrgica, fala na assembleia no dia da morte de Santo Dias, em frente ao sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, na Rua do Carmo, no segundo dia da greve.
Helio Campos Melo:
1980 - De costas, em primeiro plano, Lula fala a milhares de metalúrgicos em assembleia no estádio da Vila Euclides.
Ricardo Giraldez:
1979 - Em assembleia na porta do sindicato dos metalúrgicos em São Paulo, militante emocionado discursa sobre a morte do operário metalúrgico Santo Dias, assassinado pela polícia militar na manhã desse mesmo dia.
Jesus Carlos:
1980 - Lula tenta tranquilizar os metalúrgicos em greve, em frente à sede do sindicato, em São Bernardo, após a intervenção do Ministério do Trabalho e da invasão da polícia militar.
Juca Martins:
1979 - Na porta da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, operários concentram-se na parada dos ônibus para convencer os trabalhadores a não entrar na fábrica.
Ricardo Alves:
1979 - Assembleia em frente à porta do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, na Rua do Carmo, no centro da cidade. Durante a greve dos metalúrgicos em outubro/novembro de 1979, muitas assembleias foram realizadas na rua, porque o número de operários era muito maior do que a capacidade do auditório.
Nair Benedicto:
1979 - Em frente à Catedral da Sé, na missa de sétimo dia da morte do metalúrgico Santo Dias. Dom Angélico Sândalo discursa sobre a vida do operário que foi liderança na Pastoral Operária de São Paulo e também na Oposição Sindical Metalúrgica.
Rosa Gauditano:
1980 - Passeata de operários metalúrgicos na comemoração de 1º de Maio, em São Bernardo do Campo, durante a greve e com a diretoria presa.
Ennio Brauns:
1978 - Assembleia em frente ao sindicato dos metalúrgicos, na Rua do Carmo, em São Paulo, exige que a proposta de Comissões de Fábrica seja encampada pelo sindicato.As comissões de fábrica eram o instrumento de organização dos operários dentro de seus locais de trabalho, e foi por meio delas que se organizaram as greves em 1978.
A ideia original desse livro saiu de uma conversa entre eu, o fotojornalista Jesus Carlos e o diretor do IIEP, Sebastião Neto, em 2013.
A publicação foi produzida numa parceria tão generosa quanto fundamental entre a Fundação Perseu Abramo e a AR Áudio Visual.
O livro teve sua produção coordenada pelo Adilson Ruiz, cineasta criativo e sagaz que abraçou a ideia na primeira hora e com quem divido a organização editorial das fotos.
A persistente revisão e unificação editorial dos textos, cuidada pela Leila Ferraz garantiu à perfeição que as palavras não fugissem à compreensão de ninguém.
A paciência do Bola Nicoli foi fundamental para termos um desenho que impacta pela clareza e precisão.
E tudo isso foi possível somente pela cordialidade solidária do Rogério Chaves, diretor da Editora e do Joaquim Soriano, diretor de Comunicação da Fundação que nos possibilitaram espaço e liberdade de criação.
Somos artífices de nossa democracia e precisamos de apoio para uma nova tiragem que leve esse documento aos que precisam conhecer nossa história: o povo brasileiro.
Evoé, nós!